terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Janela da Frente - "MOCIDADE PORTUGUESA" e BULLYING - Luís Serrenho



“Mocidade Portuguesa” e Bullying


A palavra bullying apareceu há relativamente pouco tempo no nosso léxico. A entrada e o significado deste anglicismo utilizado actualmente, pouco difere nos comportamentos e práticas daquilo que há muito tempo atrás acontecia em Portugal.

Lembro-me que nos anos sessenta esta palavra “bullying” não existia no vocabulário das nossas escolas, mas já se faziam sentir os seus efeitos através dos abusos perpetrados, muitas vezes por alguns dos responsáveis corporativos, à época, mas, a maioria das vezes por colegas de escola.

Há ainda hoje, um sentido dolorido e de revolta, de quem teve que passar pelas fileiras da Mocidade Portuguesa obrigatória, do regime salazarista.

Obrigados semanalmente às quartas-feiras e sábados a participar nas actividades “paramilitares”, onde não faltava a saudação nazista, eramos comandados por colegas da mesma idade, outros até mais novos, mas já com o estatuto de diferenciada militância, interpretando à risca o autoritarismo e as orientações emanadas do regime. Eram de facto uns fieis artífices da crueldade, gerando danos físicos e psicológicos, em alguns casos irreversíveis, numa prática violenta de autentico bullying.

A maioria dos jovens, embora obrigados a participar, não reconheciam qualquer interesse, beneficio ou bondade destas práticas no seu percurso escolar, sobretudo os que não vivendo na cidade, ansiavam por regressar às suas terras, para o carinho e conforto das suas famílias.

Eram penosos aqueles sábados.

A situação agravava-se quando não existiam meios económicos para aquisição das fardamentas, sendo humilhados e motivo de chacota, ridicularizados e chantageados, através da ameaça de que poderiam chumbar o ano, independentemente dos bons resultados escolares.

Os jovens cresceram, muitos daqueles “chefes” após um percurso protegido e comprometido, foram poupados ou protegidos ao serviço militar obrigatório.

Deu-se o 25 de Abril e aqueles meninos militaristas e tiranos para com os seus colegas, transformam-se repentinamente em grandes democratas. Mais uma vez são protegidos e de novo são colocados em locais relevantes, protagonizando agora o papel de grandes antifascistas. Conseguem ocupar lugares de destaque e vão-se moldando conforme as conveniências mais à esquerda ou mais à direita. Lamentavelmente continuam a alimentar tiques de superioridade e desrespeito pelos os outros.

Estas destacadas chefias da Mocidade Portuguesa foram e são verdadeiros camaleões da política nacional, utilizam o seu camuflado conforme os seus interesses.

Acredito que qualquer que fosse o rumo politico em Portugal, eles continuariam a conseguir sempre ter o jogo de cintura, a maleabilidade e a desfaçatez de se adaptarem em qualquer circunstância para prosseguirem os seus intentos.

E eles continuam por aí!


Luís Serrenho