quinta-feira, 11 de maio de 2017

Janela da Frente - CORRUPÇÃO E PECADO - Paulo de Morais



  CORRUPÇÃO E PECADO

 

“O Pecado perdoa-se, a Corrupção Não”. Quem o afirma é o Papa Francisco, em livro recentemente editado em Portugal. Porquê? Porque o perdão implica arrependimento, o que acontece quando se peca. Mas a corrupção nunca traz arrependimento aos corruptos, e assim é como uma assimilação permanente do pecado. Logo, não havendo arrependimento, não há direito ao perdão. Esta mensagem do Papa é particularmente importante em Portugal, sociedade com características psicossociais marcadas pela tradição católica; numa comunidade dominada pelo perdão, pelos brandos costumes, pela permissividade.
No mesmo livro, “Corrupção e Pecado”, o Papa que por estes dias visita Fátima, proclama ainda que a Corrupção tem de ser denunciada. Diz-nos que “a corrupção é como o mau hálito”, têm de ser os outros a assinalá-la, uma vez que os próprios dela se não apercebem. Francisco vai mais longe, preconiza a denúncia da corrupção sem complexos. Com efeito, quem denuncia tem de ser protegido ou premiado, em qualquer circunstância. Esta denúncia corajosa deve ser entendida como colaboração com a Justiça.
Não perdoar a corrupção, denunciar a corrupção, sempre. Infelizmente, não tem sido esta a forma de reagir da sociedade portuguesa. A marca tem sido a passividade. E não é uma passividade por ignorância. Pois os casos de corrupção estão à vista, impõem-se-nos, de forma ostensiva e arrogante (Euro 2004, Expo 98, BPP, BPN, aquisição de submarinos, Banif e BES, Swaps, Parcerias Público-Privadas). Mas não há condenados e, quando há, estes não cumprem as penas. Não há ainda recuperação dos activos. A impunidade é a norma. E, na prática, a impunidade do sistema face à corrupção, funciona como um perdão aos corruptos e ao próprio fenómeno.
Além do mais, a sociedade não denuncia. Em primeiro lugar, porque a denúncia não é fácil. Apesar de haver legislação de protecção a denunciantes, sabemos bem que ela não é levada muitas vezes em linha de conta. Todos conhecemos situações de funcionários que, por terem denunciado situações ambíguas ou menos sérias, foram perseguidos ou afastados. Por outro lado, não há denúncias de corrupção porque muitos dos cidadãos andam anestesiados, alienados do fenómeno social, da sua vida pública; enquanto outros, apesar de mais conscientes, caíram na desesperança.
“A corrupção cheira a podre” diz-nos o Papa. Acrescento eu que uma democracia que está dominada pela corrupção, também cheira a podre. Precisa claramente de uma regeneração. E o primeiro passo para a regeneração é a consciencialização de que ela está podre. É pois necessário agitar este ambiente pantanoso, para que uns acordem e outros recuperem a esperança. Aliás, também neste livro, o Papa nos apela ”Não temas… a esperança. A esperança não engana”.